Ghost Writer – Tudo o que você queria saber

Você leva jeito para ser ghost?
4 de novembro de 2016
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O que é um ghost writer?

o que e um ghost writer

O que é um ghost writer ?

Assim como know how, software e hardware não existe palavra melhor para designar esta nova profissão – pelo menos no Brasil – do que seu correspondente em inglês.
Escritor fantasma, definitivamente não funciona. Somos, sim, uma legião – pequena, é verdade – de ghost writers.

E o que fazemos? Escrevemos livros para todos aqueles que sabem ter uma ótima história para contar e não têm tempo, paciência ou mesmo habilidade para se sentar em um computador e permanecer nele no mínimo seis meses dedicando 10 horas por dia à tarefa de transformar memórias em um livro.

E aí surgimos nós, a legião!

Os salvadores!

Obstinados jornalistas, em geral, que desenvolveram ao longo dos anos de experiência a capacidade de ouvir seu interlocutor e saber transformar o discurso em palavras impressas.

Parece fácil? Não é!

É trabalho meticuloso de quem fica horas olhando pelo buraco da fechadura a alma do seu interlocutor.

Sem críticas, sem opiniões, sem ego.

O ghost writer não é um biógrafo que tem opinião formada sobre o seu sujeito.

O ghost writer não é o crítico que analisa uma obra.

O ghost writer não é um articulista que escreve ensaios.

O bom ghost writer é aquele que desaparece por inteiro e pelos meses de trabalho se transforma em outra pessoa, que conta sua própria história – seja pessoal, profissional ou absolutamente técnica.

O dono das ideias é o autor.

Nós somos apenas a cavalaria, a legião, que chega para viabilizar o projeto.

E desaparecemos depois pra sempre.

E aí viramos outra pessoa, e outra, e outra mais.

 

Você escreve um livro e outro assina?

Você escreve um livro e outro assina?

Você escreve um livro e outro assina?

Essa é a pergunta que, invariavelmente, todo ghost writer precisa responder.

Primeiro ele explica direitinho o que um ghost writer faz.

E a cara de incredulidade permanece no perguntador, ainda não convencido.

E aí surge a nova pergunta:

“ E esses livros todos que as celebridades escrevem. São eles mesmos que escrevem”?

Resposta rápida: “não”.

Agora a incredulidade se torna perplexidade, com uma ponta de irritação.

Então, lá vai um exemplo (e eu adoro esse particularmente): Keith Richards, o famoso guitarrista do Rolling Stones, decide escrever a sua longa vida de sexo, drogas e rock and roll. Durante um ano, ele todos os dias acorda,se senta diante do computador, e começa a escrever até a hora do almoço. Faz uma pausa, toma um café, come uma omelete e volta à rotina da escrita. Só para às 10 da noite, quando revisa as poucas linhas que escreveu e decide dormir. Dia seguinte vai ser duro também.

E completo: “nem atende a um telefonema do Mick Jagger”.

Se fosse em filme de tribunal, terminaria dizendo: I rest my case – acho lindo, mas nem é preciso.

Meu interlocutor finalmente entende, solta um longo suspiro, imagina a cena que descrevi.

Ainda quer saber mais? Leia o livro Budapeste, de Chico Buarque de Holanda, que também virou filme, dirigido por Walter Carvalho. Trailer Aqui. Você vai virar um especialista.

 

O que um ghost writer pode oferecer?

O que um ghost writer pode oferecer?

O que um ghost writer pode oferecer?

Realizar o sonho de escrever um livro.

A fantasia de alcançar outras pessoas.

O desejo de imortalidade concretizado em palavras.

O legado para novas gerações.

Tudo isso pode parecer muito pomposo, mas é real.

Só quem trabalha como ghost writer sabe o prazer que uma pessoa sente ao ver o livro pronto, saindo da gráfica, ainda com cheiro de novo.

Pode ser bom, pode ser ruim, pode ser relevante, pode nem ser, pode ser para vender, pode ser para doar – tudo isso desaparece.
Ele está lá, na estante, para quem quiser dar uma folheada.

A sua história, a história da sua empresa, a biografia do seu avô, não importa o tema.

O ghost writer irá transformar o etéreo em algo real, palpável.

Um livro.

Você conhece Umberto Eco?

Escritor, semiólogo, um gênio do século XX e muito mais. Confira lá em umbertoeco.com

Pois bem, foi Eco que disse que havia digitalizado todos os seus livros, milhares, mas que jamais se afastaria deles, permanentemente enfileirados nas estantes, porque um simples motivo: “o papel dura 300 anos”.

“E quem se lembra do disquete” – arrematou com humor de sempre.

Livro, o mais próximo da imortalidade que um ghost pode lhe oferecer.

 

É fácil o trabalho de um ghost writer?

É fácil o trabalho de um ghost writer?

É fácil o trabalho de um ghost writer?

Claro que não. Há dores e delícias.

Trabalha-se muito: muitas horas por dia, no mínimo 6 meses e no máximo de uma infinidade de anos, se o seu interlocutor for osso duro de roer.

A primeira fase é mais fácil, pesquisar todo o material sobre o autor: o que ele escreveu, o que ele leu, a sua memorabilia.

A segunda pode ser deliciosa ou um tormento: entrevistar.

Ouvir, ouvir, ouvir.

E depois, ouvir, ouvir e ouvir.

E ainda: ouvir, ouvir e ouvir.

E quando pensa que acabou esta fase, é tempo de outra vez ouvir.

Há entrevistados fáceis. E esses são deliciosos.

Há outros que contam uma vida de 86 anos em um dia.

E nos próximos encontros você precisa ir em busca de um ponto a mais, uma vírgula se possível, um adendo salvador.

São muitas rodadas de entrevista. Não acredito que um ghost writer consiga escrever um livro com menos de 20 horas de entrevistas.

E chega a hora de escrever: transformar o quebra-cabeças enorme formado pelas entrevistas em num relato coerente e agradável de ler.

Ninguém conta a sua vida cronologicamente. A infância estará na entrevista 1, 12 e 24. A adolescência na 3, 7, 9. E por aí vai.

Cabe ao ghost juntar estes fragmentos de forma coerente e gostosa de ler.

E com a voz do “autor”.

Com suas palavras.

Sua respiração.

Seus maneirismos.

Seu humor ou falta de.

Quando o FIM é colocado na última página, nada acabou ainda.

É hora do “autor” ler, concordar, aprovar e assinar embaixo.

É uma autobiografia, jamais se esqueça disso.

Dá vontade de desistir em alguns casos, mas ghost tem que ser persistente e humilde – o dono do livro decide.
Se ele não quiser contar mais aquela tórrida história de amor, paciência. O livro vai ficar pior, mas como é dele…

E chega a hora de desaparecer depois disso.

Às vezes com saudade, noutras com alívio.

Mas novas histórias estão por vir.

Você, que já está se tornando um especialista, pode aprender mais ainda com o divertido livro Confessions of a Ghost Writer.

Ele, que já escreveu mais de 80 livros, responde muito bem à pergunta: “ quem na face da Terra quer ser ghost writer”?

Eu, ele e mais alguns loucos.

14 Comentários

  1. Isabel disse:

    Texto delicioso de se ler e muito relevante. Coisas de gosthwriter!

  2. Liana disse:

    Parabéns, dá bem para entender que é um trabalho maravilhoso. Posso apenas acrescentar um pequenino detalhe: para ser um bom gost writer é fundamental ter talento, que você, Tania Carvalho, tem de sobra! Parabéns pelo site. Bjs

  3. Luis Fernando disse:

    Olá. Tenho algumas idéias, mas infelizmente devido a minha falta de tempo não consigo externa-las. Amei esse artigo. Como poderia me comunicar mais com você? Sou amigo do Lula. Ele me chama de Fernandinho de Bonsucesso. Grande abraço

  4. Rosa disse:

    Adorei Tânia…falou e disse dissipando dúvidas . Parabéns ! Bjs

  5. Vera Schmitz disse:

    Bem esclarecedor. E se a gente pensava que era fácil, agora vê que não é. Uma curiosidade: o ghost writer ganha percentual sobre a venda do livro ou é um valor fixado? não precisa responder se não se sentir a vontade. Grande beijo. Sucesso, sempre. Vera Schmitz

  6. Vania Carvalho disse:

    Excelente.Porque será que isso não me surpreende?

  7. Marta Pinho disse:

    Oi Tânia, acompanhei todos os seus 100 dias em Paris, amo Paris!
    Comprei seu livro, claro!
    Tenho uma parte muito linda da minha vida que gostaria de escrever um livro sobre, mas não levo o menor jeito…até tentei, está tudo escrito, mas muito pobre!!!! Gostaria de mais informações! Obrigada de

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